07

Oct 2007

Árvore do mundo

Fizeram um círculo de fogo
ao som de tambores e flautas
eles dançam
enquanto no centro a febre, o suor.

Todo o calor, toda a dança e música é absorvida,
gira num vórtice até aquele que no centro se deita,
em seu estômago repousa a semente da vida,
e ela germina.

Seus fluidos não a podem dissolver,
só o veneno a destrói,
mas então a mulher também morreria…

Uma dança em honra à árvore que ela gera,
ela nasce rasgando suas entranhas,
cresce até os céus, suas raízes descem até o inferno…

04

Oct 2007

Poesia à mãe

Sangue e fogo,
sexo e poder,
medo, pudo, magia,
o coração de minha mãe devorou.

Um dia ofereci o meu coração
noutro ele me foi devolvido,
um dia o coração gritou
e o canto do vento transmitiu as despedidas.

Que possa seu espírito permanecer,
que possa seu poder em mim viver,
que possa eu guardar seu coração.

“Protetor de grande tesouro,
escolhe o poder, a criação: sua vida para mim?
ou escolhe a felicidade e o sucesso a serem esquecidos?”

20

Sep 2007

Pequenino

Pequenino escondido, entre folhas de uma planta seca, observa, escuta e aprende.

Vê as cores caindo, como chuva, carregadas pelo vento.

Sente saudade, sente remorso, sente medo.

Ouve o canto de longe que só quem o procura ouve.

Chama teu nome, chama teu espírito de volta para casa, chama teu talento e teu poder, chama o brilho dos teus olhos mais uma vez.

A planta seca não morreu, ela te espera para florescer contigo.

29

Jul 2007

O Dragão Branco

Do alto da torre onde vigio, onde passo a maior parte do meu tempo, onde encontro informações preciosas, posso ver toda manhã, no norte, o dragão branco.

Ele vive escondido atrás dos morros cobertos de mata do outro lado do rio escuro. Rio misterioso e sombrio: suas águas são sempre turvas e seu caminhar é lento. Todas as manhãs seu espírito solta seu bafo enchendo o ar de bruma e tudo umidece. Seu bafo só volta ao rio quando o meio dia é próximo, então vê-se o dragão branco descansando sobre os morros do norte.

Dizem que enquanto o bafo do rio ainda bloqueia a visão do céu o dragão voa procurando por comida e calor, então volta, espreita nos morros e observa o bafo baixar. É sua diversão preferida porque ele mesmo é filho do rio e nasceu no bafo.

Ele assiste a todo espetáculo depois vai embora para as paragens além dos morros e se esconde inde nenhum homem possa vê-lo (sabemos disso porqe nem o mais bravo batedor encontrou seu lugar de repouso) . Os mais ganaciosos acreditam que lá guarda um grande tesouro. Dizem os mais sedentos por saber que esconde uma fonte de sabedoria. Mas eu, vigia da torre, acredito que o dragão apenas queira dormir em paz.

14

Jul 2007

Montanha

Tudo isso se passa num crepúsculo, no instante mais vermelho do céu, num lugar que viu sua sacralidade ascender e decair, viu sua glória e sua decadência.

Muitos anos atrás, quando as pessoas ainda subiam pirâmides para fazer sacrifícios, quando ainda temiam eclipses, quando a fertilidade era associada por todos ao poder de muitos deuses, vivia um jovem talentoso.

Seu nome foi esquecido, mas sua alma observou o mundo por muito tempo, e talvez agora permaneça apenas dormindo.

Naquele tempo a colheita era festejada no pôr do sol, todos festejavam, fogos ardiam, danças circulares, danças de dupla e de grupo, comida e pães para todos. Menos um festejava, um jovem era sacrificado a uma grande montanha que os protegia, como acreditavam.

E o jovem escolhido naquela noite era talentoso, foi erguido no alto da pirâmide de degraus grandes, com serpentes decorando suas laterais, um altar já vermelho de tanto sangue ali derramado. Ele foi erguido e caiu sobre uma espada curta, feia e mal afiada, ela lhe atravessou o coração e sua alma caminhou para o oeste, para onde o sol, naquele exato instante, se punha. Para a montanha.

Ele se tornou montanha, e a montanha se tornou ele.

O que antes foi para ele um ano agora lhe era um suspiro.

Assim viu seu povo abandonar os sacrifícios na primavera seguinte, algo os espantou dali, muitos morreram, a fome os assolou, o medo… Não sacrificaram um num ritual, mas todos morreram de fome, pragas ou guerras. Nenhum morreu em paz.

Mais anos se passaram, seu povoado ficou seco, abandonado, sua pirâmide ganhou o aspecto de ruína, as cores desapareceram, as plantas começaram a crescer sobre ela.

Mais e mais anos. Ele viu gente nova passando por ali com medo, era um lugar amaldiçoado, a montanha não lhe protegia mais, apenas lhe observava…

Séculos e novas pessoas vieram, mas não sacrificavam, não honravam os que antes ali viveram, era diferentes… Nem mesmo a pirâmide respeitaram, transformaram-na num hotel, derrubaram parte de suas paredes e tamparam os buracos com vidro azulado.

O céu era mais escuro e vermelho no crepúsculo deste dia que naquele dia do último sacrifício. A cidade nova crescia, pessoas novas surgiam e a prosperidade era alta.

Falava-se que a montanha voltava a lhes proteger.

Então edifícios ainda mais altos que a pirâmide foram construídos, uma enorme estátua foi construída sobre a montanha, e logo a cidade começou a crescer sobre ela.

Cada crepúsculo era mais vermelho.

Então a última rocha da superfície da montanha foi feita em pedaços, um novo edifício seria construído, a noite era vermelha então, e o crepúsculo durou até o amanhecer, a montanha naquela noite morreu, o jovem talentoso de novo caiu em seu sono, o que antes lhe eram suspiros agora eram eternidades inteiras.

Uma nova praga assolou a cidade e crianças nascidas durante a noite não viam o amanhecer… logo a pirâmide de novo foi assolada com insetos e ervas daninhas, logo os edifícios se tornaram ruínas.

Um raio de sol brilhou no céu, iluminou aquelas ruínas, viu-se azul e verde, algo de amarelo e muito pouco de vermelho.

Mas a montanha e seu povo já estavam mortos.

08

Jun 2007

A Vassoura que não sabia dançar

Um conto infantil…

Quem sabe eu volte a escrever como escrevia antes.

Este conto é parte de um trabalho do curso, tive que enfrentar meus dragões, matar uma boa parte deles, e voltar a juntar palavras.

Era uma vassoura que não sabia dançar.

Ela vivia num teatro, ficava atrás da coxia ouvindo o balé, o sapateado e aplausos das platéias à noite. Só saía de lá para limpar a poeira, os confetes e os papéis brilhantes que caíam durante o espetáculo.

Imaginava como seria lindo ver aquilo tudo acontecendo… a chuva de papéis coloridos, parecendo uma chuva de gotas brilhantes, as dançarinas desviando de cada uma delas, a música extenuante… E lamentava, e sentia uma dor profunda… não podia ver nada disso, não podia dançar com elas…

Era uma vassoura muito triste, detestava sua forma: achava que tinha cabelos horríveis, que era dura demais para a dança! Era uma vassoura de piaçava ainda, tão antiga… Não sabia, mas vivia num teatro simples, decadente, mas mesmo assim acreditava que ali no palco estavam as portas para o paraíso.

Toda noite, logo que as últimas luzes se apagavam e o barulho da porta dos fundos se fechando era ouvido, como um despertador, ela emitia seu ruído de vassoura triste. Tentava se mover, tentava dançar, mas sozinha era incapaz. Chorava toda noite, e rezava às vassouras que viveram antes dela, rezava para que um dia pudesse ser diferente, pudesse dançar. Alguns dias ela praguejava, nunca soube de vassouras dançarinas, e por isso odiava ser o que era, odiava todas as vassouras.

Mas em outros dias lembrava-se que só viu vassouras quando era bem nova, quando ainda não tinha vindo ao teatro, e mal se lembrava desses dias tão distantes… era uma vassoura velha, sozinha, num teatro decadente.

Foi tanto tempo assim, dias tristes e sem esperança.

Uma nova menina começou seu espetáculo, ela era diferente das outras, era deslumbrada e desajeitada.

O novo espetáculo chamava-se A Bruxa do Carvalho, e precisavam de uma vassoura como esta de nossa história. A menina seria a bruxa.

No fim da dança os camponeses e camponesas perseguiam a bruxa próximo a um carvalho, e ela fugia, voando em sua vassoura, mas não sem antes mostrar os seus poderes chamando a vassoura que ficava escondida entre as folhas da árvore.

Ela caía no chão, com graça, como se fosse também uma bailarina, e dançava com a bruxa. Cordas no teto a ajudavam. Tudo era feito com tanta graça que nem parecia uma vassoura dura e chorona, ela parecia mesmo uma bailarina, se curvando conforme girava com velocidade.

Depois a vassoura levava a bruxa embora, observada pelo olhar assustado e aterrorizado dos camponeses. E o espetáculo fez tanto sucesso que a vassoura se tornou parte do elenco definitivo da casa, e outra vassoura foi comprada, a nossa não varria mais o palco. A bruxa fez seu sonho se realizar.

02

May 2007

O Último Sonho no Inferno

Para relembrar minha fase de boa poesia…

Incólume vida,
Alegre momento:
Canta e dança, corre e brinca, ri e aplaude no ermo.

Dragão, cavalga o vento,
Prepara p’ra descida.
Morte e sangue fertilizam a terra e o inferno.

Garota sangrada,
Assassina lança!
Vagando no mundo dos mortos, dormente…

Bruma, sombra e lembrança,
Busca a foice sagrada.
A eternidade da alma acaba nu’a semente.

Espírito: exterminado corpo,
Desvanecido e eternamente morto.

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