10

Dec 2008

Do verão sem fim

O mundo estava quente e pessoas morriam de fome, sede e doenças do calor. Era um verão interminável.

Mas a natureza sabe se adaptar e sobreviver, então nasceu um menino que sabia trazer o frio, ele foi o controle. E por anos o mundo foi novamente um lugar agradável de se viver.

O menino cresceu, se tornou um adolescente, e o adolescente se tornou um homem. E esse homem se sentiu sozinho, o gelo dominou seu coração. Ninguém lhe oferecia o calor do carinho: temiam a volta do verão.

Ele se cansou, gelo por gelo, sozinho entre vivos ou mortos, e congelou o mundo, num inverno sem fim.

13

Apr 2008

Vento Gelado

“Ele traz o inverno, toma as nozes do outono e as esconde, esconde também o sol.
Na primavera, depois do reinado do inverno, encontram seus presentes, germinam aquelas que não foram encontradas.
Ele dá arrepios na sua pele. Uns dizem que é porque é o cavalo dos fantasmas, outros, só porque é um vento gelado…”

03

Mar 2008

Não se trata de escolhas…

Podemos ir a um lugar distante,
viajar atravessando rios,
encarando o vento,
em busca de paz
ou de algo maior.

Podemos esquecer tudo,
encolher-se e perder-se nos próprios sonhos,
permitir que a loucura nos devore
e sentir o perfume de amor impregnado em tudo.

Podemos fingir que nada aconteceu,
é mais fácil,
fechar os olhos e pensar que a cascata é só uma chuva,
imaginar o sopé da montanha como só um monte de pedras,
pensar que todos os sonhos são só devaneio…

Podemos abrir o peito e se expôr à dor esperando o calor do contato…

Podemos só esperar…
e ver onde as ondas nos levam…

04

Jan 2008

A Fênix esperou até hoje.

Eu li um conto do Sphynx hoje a tarde e fiquei pensativo… lembrando da época que eu escrevia mais. Estou com uma biblioteca inteira de idéias na cabeça, um monte de folhas de rascunho e esboços, mais um tanto de contos para serem revisados.

Hoje fiquei pensando durante o caminho pra casa sobre um conto que eu tenho idéia de escrever há muito tempo, sobre bloqueio de escritor… Mas esse nunca chegou nem ao esboço…

Passei o dia com uma dor nas pernas horrível, não sei de onde vem, cheguei em casa com um tempo de chuva (mas não choveu) e tentei sentar no computador pra fazer alguma coisa, mas a dor piorou e eu deitei e coloquei as pernas pro alto… aliviou e tentei voltar aqui. Não deu certo de novo. Estava de novo brigando com meu portfólio (é uma lenda já) e voltei a deitar.

Deitado eu pensei como o corpo da gente é. Ele queria descansar, eu não, e ele me fez deitar e descansar, daí pensar… E fui pensar no esboço de conto mais bem formado, outro que começou no ônibus.

Foi a primeira boa idéia depois de um ano de calmaria ou brisas leves, estava ouvindo pela vigésima vez em três dias, talvez, o novo álbum da Tarja Turunen, a faixa My Little Phoenix… e tive uma inspiração. Mas era só uma característica de um personagem: sem história, sem nada. Era uma personagem pelada.

Eu já tinha a Kalevala. Mas só comecei a ler essa semana (esse personagem já tem um mês no mínimo que fermenta na minha cabeça) e o primeiro capítulo me inspirou, me deu mais peças, me deu a situação.

A dor na perna, o descanço forçado e um banho foram o rejunte.

Sentei e escrevi. E ficou diferente do que costumo fazer, ficou bonito. Mas ainda falta o período de repouso que eu sempre dou aos meus contos antes de espalhar, então, esperem um tempo. Provavelmente eu só o divulgue com o Vento Gelado, o projeto que eu não expliquei ainda.

Bem, basicamente será um site de contos, com divulgações periódicas (não decidi ainda o período: quinzema, semana ou mês). Lançamento previsto para março, se tudo der certo…

27

Dec 2007

A mulher e a criança

“Ela era uma mulher muito má, e devorou a criança!
Para sempre ela viveu, e para sempre esteve a criança chorando em seu estômago… choro que só era ouvido pelas pessoas que passavam perto.”

17

Dec 2007

Lágrima

Eu escrevi isso há três anos inspirado por um conto de Francis Ponge.

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04

Nov 2007

A Tília

Mais um dia.

Tílio, o aposentado, estava em seu posto de sempre, na rua, só observando as pessoas: suas atitudes, roupas, gestos, conversas, olhares; de algumas chegava a criar teses sobre suas personalidades, sobre suas almas e valores. Tentava desvendar os mistérios da alma humana.

Tinha certo repúdio por árvores e animais, mas ficava numa alameda cheia de tílias, irritava-se com suas folhas secas caindo a seus pés, era pior quando o vento as fazia roçar em seu corpo durante a queda! Não suportava quando isso acontecia, e praguejava tanto!

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02

Nov 2007

Sobre escrever e trevos

Passando dois anos sem escrever eu aprendi muito.

Escrever é como ter um filho, e manter-se escrevendo é como cuidar de um filho. Mas é o tipo de filho que te faz ser conhecido como pai dele, não como você mesmo. Uma paternidade talvez parecida com a dos músicos…

Traz popularidade, traz fracasso, traz sátira, traz vergonha, traz reprimenda, ou orgulho, ou recompens, ou sonho.

Abandonar um filho talvez seja um dos crimes mais mal vistos, não é mais que matar um pai ou uma mãe, com certeza. Isso tudo é a derrubada de um dos valores fundamentais da cultura, da civilização. Assusta as pessoas ver algo que pode ameaçar aquilo que consideram sua estabilidade.

Eu abandonei o escrever há dois anos, aos poucos, quase sem notar, eu vi meu nome cair no esquecimento de muita gente, vi meu orgulho murchar e se dobrar sobre si, até secar e tornar-se alimento da terra que o alimentou, vi meus dedos doerem, meus olhos incharem, minha garganta secar. Eu notei os sintomas, não notei a doença. Eu traí meus sonhos.

De certa forma ainda não estou morto. O orgulho é uma planta difícil de matar, este orgulho que estou falando aqui. Interessante citar meus trevos que pareciam mortos, estavam murchos, dobrados sobre si mesmos, fechados, mas eu os reguei e eles, no dia seguinte se levantaram, grandes e bonitos como sempre. Nem todos se levantaram, claro, mas aqueles que se dobraram até o fim, até não ter mais forças para se levantar de novo, deram lugar a novos trevos. Começaram em três, um não resistiu, todos os outros estão lá, juntos com mais outros, hoje são cinco, talvez seis, mais um novo que saiu da terra ontem.

Não escrever me faz me sentir velho, e eu sei que não sou velho, sei que sou jovem ainda. Mas sempre que eu tento e sinto como deve ter se sentido aquele trevo que não se levantou mais. Foi a falta de água, falta de carinho a um filho que eu abandonei, que apodreceu dentro de mim e me mata aos poucos.

Mas talvez ele seja como os outros dois trevos.

Enquanto isso eles, não os trevos, simplesmente ‘eles’ para vocês, sentam-se um no meu ombro direito e outro no meu ombro esquerdo e me observam preocupados, não sabem o que fazer. Não sabem que sonho pedir por mim.

Uma vida medíocre é pior que a morte.

E depois de dois anos desaparecido, depois de ter trocado de nome, de ter pedido que se afastassem, quantas pessoas vão ler isto?

Talvez seja só um pouco de romantismo da minha parte, um pouco de ultra-romantismo. Não faz diferença. Eu ainda vou tentar me levantar. E se não conseguir talvez seja mesmo melhor deixar que o corpo apodreça. Existem outros trevos neste pequeno vaso…

13

Oct 2007

Os olhos que vêem as cores

Quando eu tentei fechar os olhos e não ver a poesia, tentei olhar o vaso de plantas como simplesmente uma coisa verde, tentei olhar as pimentas como meras bolinhas vermelhas… vôou um pequeno inseto pela porta, parecia uma minúscula fada branca, ela vinha de uma direção, para onde eu olhei – ouvi um ruído vindo de lá!

Uma bruxa, uma borboleta enorme, preta e amarela, acabou de acordar e tentava desajeitadamente voar. Conseguiu. Foi à lâmpada se esquentar… e a pequena fada branca reapareceu, assistindo a tudo…

E até agora ouço as asas da bruxa batendo.

E noto: não querem meus olhos fechados. A poesia, o conto-de-fada, a magia… a beleza… é o que faz a minha vida ter sentido.

A bruxa pode voar, a fada observar, eu escrever ou a borboleta se debater porque acabou de sair de seu casulo, o pequeno inseto branco voar despreocupado e eu… não ser ninguém.

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